- TEMPOS SAUDOSOS -
Plínio Magalhães da Cunha
A carrocinha do Leite
O calendário girava pelos anos 20, depois da primeira grande guerra e da misteriosa gripe espanhola. Em Itapira, a distribuição de leite transcorria naquele processo empírico, manual e caseiro, como em todo o Brasil. Nenhum estabelecimento ousava comercializar o leite, nem distribuí-lo. A tarefa se concentrava nas carrocinhas românticas, rodas de ferro, que ainda por cima executavam o murmúrio rítmico das engrenagens ressequidas. O leite vinha, portanto, em garrafas de cores variadas, arrolhadas com palha de milho. Latões abastecidos tinham uma torneirinha adaptada, no terminal da carroça, para facilitar o serviço do entregador. A cada parada, a torneirinha era aberta, ficando a rua de chão batido com os respingos da sobra. Na foto de hoje, uma dessas carrocinhas estacionada em frente ao prédio do Coronel Francisco Vieira mostrando o gradil daquela residência. À esquerda, mais ao fundo, a mansão do Capitão Adolpho de Araújo Cintra, que ainda lá permanece como sentinela avançada do início da Rua Regente Feijó. E, do lado direito, as obras para a construção da casa do fazendeiro João Baptista Pereira, hoje residência da família do saudoso médico José Alberto de Mello Sartori, ali na confluência com a Comendador João Cintra.
Finalizando, lembro aos saudosistas que, este conto é de um passado remoto – dos meus tempos de menino – transformado num quadro vivo em forma de pensamentos. De uma época entrelaçada ao futuro, mas despertada pelo presente no enigma do tempo. É a vida!
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